Sunday 1 July 2007

No fundo do mar (Sonhos Ilibados)




Às vezes me sinto presa a grilhões
Jogada ao fundo d’um mar
Posta somente a afundar
Perdendo o fôlego em turbilhões...

Minha face hirta e atroz
Como uma ave a ruflar
Resvala neste agonizante arfar
Afundando na escuridão feroz

As pálpebras estão a arroxear
Os olhos se enfurnam na escuridão
Duas pérolas negras da solidão
Que desejava seu amor ao longínquo tocar...

A boca ilibada dos sonhos meus
O beijo guardado cá no peito
Estou a levar neste profundo leito
O sabor que teria os lábios teus...

Este amor é como uma úlcera
Em seu estado de podridão
O vurmo que escorre então –
D’um amor q’eu nunca tivera...

Quando encontrassem meu corpo
Pálido e mortiço como a lua
Saibas que minh’alma ainda flutua,
Perdida, carregando teu amor sob o dorso!...

E a serpentina que iluminará meu antro
E o ciciar dos que ainda não acreditarão
Vendo meu corpo fixo e sem vida

Tua presença arrancaria de minha face,
Ainda que morta, um sorriso,
Mesmo que invisível, não seria preciso
Que notasses meu amor em uma despedida...

Escrito por Marcelle Castro

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